segunda-feira, 23 de abril de 2012

Funai ampliará aldeia Krukutu em território de S.Bernardo




Por: Claudia Mayara (mayara@abcdmaior.com.br)
Fundação Nacional do Índio garante que projeto é prioridade e está em fase final
A cerca de 30 quilômetros do Centro de São Bernardo, 400 índios guaranis da aldeia Krukutu vivem às margens da represa Bilings. Atualmente a comunidade indígena ocupa aproximadamente 2,9 hectares (equivalentes a três campos de futebol) da área rural de São Bernardo, na divisa do Bairro Santa Cruz, no pós-balsa, com Parelheiros, na Área de Proteção Ambiental Capivari Monos. De acordo com a Fundação Nacional do Índio, em breve, São Bernardo abrigará uma área maior da aldeia. Apesar de não haver prazos, o projeto de ampliação está em fase final. No total, a aldeia Krukutu tem 25 hectares.
O coordenador do projeto Índios na Cidade, da Ong Opção Brasil e membro do Grupo de Trabalho Igualdade Racial do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos do ABC, Marcos Julio Aguiar, alerta que o processo é burocrático e se arrasta há 15 anos. “A Funai já veio, fez estudos, mas a área não foi demarcada. O processo exige a indenização de proprietários de sítios da região”, esclareceu Aguiar.

Dificuldades - O presidente da Associação Guarani Ne’e Porã e escritor de literatura nativa, Olívio Jekupé, não esconde as dificuldades de se viver em uma reserva pequena e cercada de chácaras. “Não podemos sobreviver da caça ou da pesca porque os animais fogem daqui por causa dos sítios”, explicou.
Outra dificuldade é a prática da agricultura. “Não temos espaço para cada família fazer uma horta. Para tanto, teríamos de desmatar, mas isso não é vantagem para ninguém”, destacou. Diante disso, para sobreviver, os índios da aldeia Krukutu trabalham e compram comida em São Paulo, a 10 quilômetros da aldeia.
Apesar da demora do projeto de ampliação sair do papel, Aguiar destacou a postura de São Bernardo em abraçar a causa. “Esse é um processo que vem do federal para o municipal, então não depende de São Bernardo fazer a demarcação, mas o município aceitou o projeto e discute as propostas, o que facilita a situação”, comentou. Procurada, a Prefeitura disse não ter mais informações sobre o assunto, uma vez que o assunto compete à Funai.

Área escolhida - A Funai garantiu que a área a ser comprada para a ampliação da aldeia já foi escolhida e avaliada, faltando apenas o proprietário apresentar documentos com os estudos de georeferenciamento, que consistem na descrição do imóvel rural de acordo com as normas técnicas do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). A lei 10.267 de 2001, que criou o Cadastro Nacional de Imóveis Rurais, torna o processo obrigatório para que imóveis rurais possam realizar qualquer alteração cartorial na propriedade. Algo que será necessário para que a área seja demarcada como indígena.
Com exceção da aldeia Krukutu, o ABCD não possui aldeias indígenas. Entretanto, isso não significa que a Região não tenha índios. A Ong Opção Brasil estima que há 33 etnias e mais de 8 mil índios nas áreas urbanas do ABCD.

Tecnologia é a nova arma indígena

Luz elétrica, água de qualidade, escola, creche e posto médico próprios, banheiros comunitários com chuveiros, carros, celulares e acesso à internet. Assim vivem os cerca de 400 índios da aldeia Krukutu, na divisa de São Bernardo com Parelheiros. Lá, os indígenas unem o melhor da tecnologia às tradições seculares dos guaranis. A mistura tem dado bons resultados e garantido o crescimento populacional saudável da aldeia.
Para o presidente da Associação Guarani Ne’e Porã, Olívio Jekupé, a tecnologia, desde que usada da maneira certa, divulga as necessidades e o próprio povo indígena. “Hoje, o arco-e-flecha não atinge mais ninguém, mas a tecnologia alcança as pessoas e faz a diferença”, argumentou.
É também a partir da modernidade que os líderes se comunicam com as autoridades estaduais, nacionais, demais aldeias e até com outros países. “Muitas pessoas descobrem a nossa existência no facebook ou em blogs. É assim que conseguimos turistas”, explicou. O turismo é uma das formas de garantir recursos para a sobrevivência.
Apesar da modernidade, as tradições e culturas indígenas são preservadas e fortalecidas na aldeia. Todos dentro da comunidade só falam guarani. “As crianças aprendem o português no rádio ou na televisão. Ninguém ensina. Até porque o português é apenas nossa segunda língua”, esclareceu Jekupé.

Aula bilíngue - O professor Pedro Bolantin dá aulas da 1ª à 4ª série dentro da aldeia e revela usar as duas línguas nas explicações. “A grade curricular é a mesma em todo o Estado, mas aqui escrevemos as matérias em português e explicamos em guarani”, comentou. Todos os funcionários, de agentes de saúde a professores da aldeia são índios, com exceção dos médicos.
Mesmo com o posto de saúde, os índios da aldeia Krukutu mantêm os rituais diários de curas e a crença fiel na figura do pajé. “Tem coisas que apenas o pajé sabe curar”, explicou a auxiliar de cozinha e integrante do conselho de mulheres Beatriz Aparecida dos Santos. Somente quando o pajé não consegue realizar a cura, por falta de plantas, é que o médico é procurado. “Estamos buscando recursos para montar um viveiro e assim cultivar as plantas medicinais que não são encontradas nessas matas”, disse Beatriz.


Fonte: ABCD Maior

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...